quarta-feira, 23 de maio de 2012

Ainda as cocheiras do Jockey Clube

Ainda sobre aquela doação da área pertencente ao Estado, pela administração anterior, das cocheiras do Jockey Clube à entidade, para posterior exploração imobiliária, tramita na Câmara Municipal este importante projeto de lei de autoria dos vereadores Pedro Ruas e Fernanda Melchionna:

"Submetemos para análise e deliberação da Câmara Municipal de Porto Alegre o 
presente Projeto de Lei, que visa a instituir como Área Especial de Interesse Social III – AEIS III – 
a área correspondente aos dezesseis hectares que, ainda hoje, são ocupados, em parte, pelas 
cocheiras do Jockey Club, localizada na região de Porto Alegre em que há maior foco de remoções 
realizadas em prol das obras de infraestrutura da Copa do Mundo de 2014 e com potencial 
incalculável, capaz de resolver boa parte dos problemas fundiários da região, se utilizada para tal fim. 
Doada com gravame de uso, por meio do Decreto nº 813, de 1945, a referida área 
pública foi cedida ao Jockey Club para disponibilização do mercado especulativo de terras de 
Porto Alegre, após aprovação do Projeto de Lei Estadual nº 178/10, em março de 2010, proposto 
pela então governadora Yeda Crusius, retirando o gravame de uso firmado no contrato de 
cedência.  
O referido Projeto, apresentado por solicitação do Jockey Club, com o objetivo de 
suprir seu autossustento, propôs, também, a utilização do terreno para a construção de torres 
comerciais, residenciais e de serviços, sendo as partes comerciais exploradas economicamente 
pelo Jockey Club, para sua salvaguarda econômica, e as unidades habitacionais exploradas pela 
própria construtora. Para os fins desse Projeto, o valor venal do imóvel urbano, localizado no 
quarteirão formado pelas Avenidas Diário de Noticias, Chuí e Icaraí, no Bairro Cristal, sob a 
matrícula nº 6.870, com área de 166.979,355m², foi  avaliado pelo Departamento de 
Administração do Patrimônio do Estado – Deape – em  R$ 56.612.000,00 (cinquenta e seis 
milhões e seiscentos e doze mil reais), o que certamente significa um grande dano ao Erário 
Público. Como contrapartida, o Projeto apontou a edificação e a doação de unidade escolar para 
250 alunos. No entanto, não houve exigência de contrapartida no sentido de minimizar o impacto 
urbanístico e social que causará na região. Em sua justificativa, o Executivo Estadual afirmou 
que seriam aceitas as normas edilícias acordadas com a Municipalidade, instância competente 
para esse fim.  
Sendo assim, compete a este Legislativo Municipal instituir nessa área regime 
urbanístico adequado à infraestrutura existente na  região, sem onerar os moradores que já 
habitam o Bairro, e, ainda, disponibilizar a área total ou parcial para moradia popular, gravando- 
-a como AEIS III, não apenas com o objetivo de efetivar o cumprimento da função social da 
propriedade, mas também a função social da Cidade. 
O gravame de AEIS III será de grande significado para aquela região, que tanto 
carece de moradias e área urbana com infraestrutura para reassentamento das famílias que serão 
removidas em função da duplicação da Av. Tronco, as quais reivindicam alcançar a segurança de 
posse das suas moradias em um espaço físico próximo, já que serão vítimas de remoção. Ainda, 
há as famílias ao lado do Arroio Cavalhada e do Resvalo, que, igualmente, necessitam ser 
removidas devido às obras do Projeto Integrado Socioambiental – PISA–, além de moradores de 
outras várias comunidades e vilas da região que serão atingidas por qualquer obra da Copa e que 
também vivem em condições precárias, como a Vila Pedreira. Inclusive, em audiência pública da 
Câmara Municipal de Porto Alegre, que ocorreu na Igreja Santa Teresa, no Bairro Cristal, em 27 
de abril de 2011, com moradores e lideranças comunitárias, vários problemas e questionamentos 
foram levantados, e os vereadores presentes concordaram com a indicação da área do Jockey 
Club para moradia de interesse social. PROC. Nº 3333/11 
PLL     Nº   190/11 
É de conhecimento de todos que a mobilização daquelas famílias e a indicação de 
áreas pela própria comunidade para desapropriação foram acatadas pelo Executivo Municipal, 
que anunciou a desapropriação de algumas áreas, insuficientes para reassentar as famílias 
atingidas. Por outro lado, os proprietários de imóveis com maior poder aquisitivo que também 
residem no Bairro Cristal se organizam e protestam contra as desapropriações de áreas pontuais 
no próprio Bairro, com os argumentos de que seus imóveis irão desvalorizar e que sentem seu 
patrimônio ameaçado. Esses proprietários também não ganharão nada com as novas torres de 
edifícios de luxo propostas para a área das cocheiras, pois onerarão a infraestrutura que já existe, 
a qual é cada vez mais insuficiente para os que já residem no Bairro.  
Dessa forma, podemos ver que está em nossas mãos a possibilidade de planejar as 
obras de infraestrutura que estarão sendo implantadas para a Copa do Mundo 2014, que, de fato, 
deixarão um legado para o Município de Porto Alegre. A utilização da área das cocheiras para 
fins de construção de moradia popular pode significar a solução para a completa irregularidade 
fundiária da região, pensando além de um simples projeto de mobilidade e reassentamento das 
famílias atingidas; um projeto amplo, de cidade includente, compacta e democrática. Além disso, 
poderá evitar um grande conflito social que começa a surgir naquela região.  
Assim, diante das demandas históricas daquelas comunidades, que há muitos anos 
esperam por solução para a questão de suas moradias, direito fundamental garantido pela 
Constituição Federal, agora, em época de copa do mundo, com uma grande quantidade de 
recursos disponíveis, é o momento de a Cidade investir no seu capital social, além de propor 
obras de infraestrutura que já estão na Matriz de Responsabilidades, e, dessa forma, ser 
protagonista na realização plena do direito à Cidade e à moradia digna. 
É importante lembrar que este Projeto, que propõe a gravação da área como AEIS 
III, não conflita com a proposta da então governadora Yeda Crusius, de garantir a salvaguarda 
econômica do Jockey Club, uma vez que a função comercial pode e deve ser mantida na área, 
proporcionando uma variedade de usos que garantirá  à área a vitalidade necessária para se 
consolidar de maneira segura. A construtora poderá  ainda contar com diversos financiamentos 
que estão sendo disponibilizados pelo Governo Federal para a construção de moradias populares. 
Com um projeto integrado, que respeite as características da região e seja pensado 
de maneira harmônica, no que diz respeito à arquitetura e ao urbanismo, poderemos formular, 
para aquela região da Cidade, um projeto habitacional de incrível protagonismo que poderá 
resgatar a imagem internacional de Porto Alegre como cidade includente e democrática. 

VEREADORA FERNANDA MELCHIONNA                    VEREADOR PEDRO RUAS

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